No álbum de família
Vejo a vida e me espanto
Pois não compreendo
Por que ela correu tanto
Na manhã da vida
Tinha alma ensolarada
Tudo era um querer
De querer tudo
E, sem querer, não querer nada
Triste do retrato
Que, saudoso, rememora
Minha ingênua farda
De soldado da escola
Hoje já não tem
Aquele mesmo resplendor
Pois passou o tempo
E ele também perdeu a cor
A doce lembrança
Que me invade sem receio
Ouço a gritaria
Da hora do recreio
As meninas anjos
A trocar por suas prendas
Um beijo no zé gordo
Entretido com a merenda
Ana sabe tudo
Era minha namorada
E eu, por minha vez
Era perito em saber nada
Dura tabuada
Com seu complicado enredo
Nela eu aprendi
Como se faz conta nos dedos
Nove vezes nove
Quase que me bota louco
E hoje o resultado
Deus do céu, vale tão pouco!
Nada mais existe
Do menino aprendiz
Que levou a sério
O que todo mundo diz
Desbotou com o retrato
Aquela alma ensolarada
Tudo que é querer se foi
Ficou o querer nada
Ficou o querer nada
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